- Negro?
- Sim, negro! Olha para isto! Chega-te lá aqui ao espelho.
- Tens razão. Está um bocado negro. O que é que me andaste a fazer à noite?
- Eu!?!?
- Apanhas-me a dormir e apertas-me logo o pescoço! Eh! Eh!
- Estás a brincar mas isso está um bocado feio…
- Devo ter dado um mau jeito durante a noite…não te esqueças que tive uma noite agitada.
- Bom, vai lá trabalhar, mas logo temos que ver isso…




- Pedro! Pedro!
- Sim…hmmm…desculpa…
- Tu estás bem?
- Estou, desculpa, acho que estava distraído…
- Distraído?! Parecia que estavas em transe!
- Pois…desculpa…
- Primeiro, chegas atrasado, o que não é nada normal. Depois, parece que não estás cá. O que é que se passa contigo hoje?
- Nada, acordei um bocado estranho, é só isso…
- O que é que foi isso no pescoço?
- Nada, acordei assim…
- Acordaste assim…desculpa lá perguntar-te isto, mas…está tudo bem lá em casa?
- Hmm? O quê?! Que disparate, Paulo, está tudo bem…não acredito que penses que…
- Não penso nada. Vai com calma, fiz a pergunta como teu amigo e não como teu chefe…tens que admitir que o teu comportamento, juntamente com o estado do teu pescoço…deixa-nos a pensar…
- Ok. Mas podes estar descansado, garanto-te. Olha desculpa, deixa-me atender esta chamada. Se eu não atender a minha mãe vou andar alguns dias a ouvir das boas.
- Claro, claro! Eu sei como é, acredita…é melhor atenderes. Depois falamos melhor…

- Estou, Mãe…

- Claro que estou a trabalhar, onde querias que estivesse?

- De férias? Então eu não te avisava se fosse de férias para algum lado?

- Oh, Mãe, pronto, esqueci-me de te avisar daquela vez, mas não quer dizer que agora faça tudo sem saberes!

- Já sei, já sei…olha, Mãe, como te disse estou no trabalho…o que me querias dizer?

- O quê? O Tiago? Como?

- Porra, como é que acontece uma coisa assim?

- E ninguém deu por nada?

- Acho isso estranho! Mas quem te contou?

- Pois…não sei se terá sido mesmo assim ou não…

- Não, eu estou bem, mas isto deixa-me um bocado abalado, é só isso…

- Oh, Mãe, é claro que vou ao funeral. Apesar de estarmos mais distantes há alguns anos, o Tiago nunca deixou de ser meu amigo!

- Ainda não sei a que horas saio. Depois falamos.

- Está bem. Obrigado. Até logo.



- Pedro, desculpa, não pude deixar de ouvir…aconteceu alguma coisa?
- Eh pá, Paulo, parece que morreu um amigo meu, o Tiago…ainda não se sabe bem como…
- Olha o teu telefone….parece que hoje estás concorrido…
- Desculpa lá, espero bem que não seja outra vez a minha….eh, pá! Não pode ser…
- O que foi?


- Mas quem é que te está a ligar?
- Eh pá, de acordo com o que diz o meu telemóvel…é o Tiago!

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