Pese embora, nesta fase, todos atribuírem a ausência de comunicação a uma decisão do próprio Stanislau, não sabiam, porém, que Stanislau nasceu com uma incontrolável falta de vontade de comunicar. Por muito que a partir de determinada altura ele tivesse decidido manter o seu impenetrável escudo de silêncio, a verdade é que tinha nascido assim. Nesta fase, era impossível ainda, mesmo para ele, explicar porque nasceu assim. Essa era, talvez, a única dúvida que tinha acerca da sua existência. Tudo o resto, acerca de si próprio e da sua vida, era bastante claro para si. Sabia perfeitamente para onde queria ir e como queria lá chegar. Aos 16 anos era uma pessoa decidida e tinha todo o seu futuro planeado. Todo.
A 2ª vez que Lara voltou foi numa tarde de sábado. O sol estava tímido e teimava em esconder-se. Stanislau espreitou Lara pela janela enquanto chegava e saía do carro. O pai fez questão de a trazer pessoalmente. A luz terna da tarde e a leve brisa que se fazia sentir conferiam à figura de Lara uma aura de magia, de assombramento. A sua figura esguia impunha-se no jardim. As folhas que se moviam, rasteiras, a seus pés pareciam formar uma passadeira estendida para si, como se a natureza soubesse que ali caminhava uma princesa. Stanislau achou-a lindíssima. Teria fotografado aquele momento se pudesse. Mas ficaria gravado na sua memória fotográfica para a eternidade, estava certo disso.
- Tiveste saudades minhas?
- O teu pai colocou-te muitos obstáculos?
- Boa tarde para ti também!
- Calculo que não. Queres sentar-te?
- Para quem me queria por perto estás um bocado antipático.
- Antipático porquê? Porque não gasto palavras com cumprimentos inconsequentes?
- Sim, basicamente por isso.
- Tudo o que dizemos deve produzir uma consequência. Deve ser dito com essa intenção. Não me parece que desejar-te uma boa tarde possa tornar a tua tarde melhor, ou a minha…
- Ok. Já percebi. Então para que me queres aqui? Não estou para passar a tarde toda calada…
- Por dois motivos: porque te acho interessante e gosto de ti e, mais importante, porque quero que testemunhes o meu plano.
- E que plano é esse?
- O plano da minha vida.
- Não estou a perceber.
- A minha vida é mais importante do que pensas.
- Mas como? Importante do género em que Deus tem planos para ti?
- Não. Importante do género em que eu tenho planos para todos. Deus não existe.
- Pareces muito seguro disso.
- Porque achas que existe?
- Quem te disse que eu acho isso? Posso não acreditar em Deus!
- Porque rezarias a alguém em quem não acreditas?
- Como sabes se rezo?
- Simplesmente sei.
- Começas a assustar-me…
- Está na hora de te dizer a verdade.
A 2ª vez que Lara voltou foi numa tarde de sábado. O sol estava tímido e teimava em esconder-se. Stanislau espreitou Lara pela janela enquanto chegava e saía do carro. O pai fez questão de a trazer pessoalmente. A luz terna da tarde e a leve brisa que se fazia sentir conferiam à figura de Lara uma aura de magia, de assombramento. A sua figura esguia impunha-se no jardim. As folhas que se moviam, rasteiras, a seus pés pareciam formar uma passadeira estendida para si, como se a natureza soubesse que ali caminhava uma princesa. Stanislau achou-a lindíssima. Teria fotografado aquele momento se pudesse. Mas ficaria gravado na sua memória fotográfica para a eternidade, estava certo disso.
- Tiveste saudades minhas?
- O teu pai colocou-te muitos obstáculos?
- Boa tarde para ti também!
- Calculo que não. Queres sentar-te?
- Para quem me queria por perto estás um bocado antipático.
- Antipático porquê? Porque não gasto palavras com cumprimentos inconsequentes?
- Sim, basicamente por isso.
- Tudo o que dizemos deve produzir uma consequência. Deve ser dito com essa intenção. Não me parece que desejar-te uma boa tarde possa tornar a tua tarde melhor, ou a minha…
- Ok. Já percebi. Então para que me queres aqui? Não estou para passar a tarde toda calada…
- Por dois motivos: porque te acho interessante e gosto de ti e, mais importante, porque quero que testemunhes o meu plano.
- E que plano é esse?
- O plano da minha vida.
- Não estou a perceber.
- A minha vida é mais importante do que pensas.
- Mas como? Importante do género em que Deus tem planos para ti?
- Não. Importante do género em que eu tenho planos para todos. Deus não existe.
- Pareces muito seguro disso.
- Porque achas que existe?
- Quem te disse que eu acho isso? Posso não acreditar em Deus!
- Porque rezarias a alguém em quem não acreditas?
- Como sabes se rezo?
- Simplesmente sei.
- Começas a assustar-me…
- Está na hora de te dizer a verdade.
-Acerca de quê?
- Acerca de mim.
- Sou toda ouvidos.
Lara sentia-se orgulhosa naquele momento. Stanislau estava disposto a contar-lhe tudo. Não conseguia explicar porque se sentia assim perto dele. Sentia-se assustada, mas simultaneamente sentia uma estranha segurança. A sua vida, até agora enfadonha ganhava com aquele rapaz uma cor, uma magia, que julgava ser impossível encontrar em algum rapaz.
Lara havia conhecido Stanislau na fase mais confusa da sua vida. Os seus pais não sabiam mas ela travava diariamente uma luta interior consigo própria. Lara tentava perceber, aos 20 anos, se gostava de rapazes, ou se, como se vinha a aperceber nos últimos 2 anos, preferia raparigas. Todas as suas dúvidas começaram quando, numa noite em que tinha ficado a dormir em casa da sua melhor amiga, Joana a beijou. Estavam deitadas na cama de Joana a ver uma comédia hilariante. Lara ria-se e contorcia-se na cama e Joana começou a fazer-lhe cócegas. Uma coisa levou à outra e começou a luta de almofadas. Já cansadas, deixaram-se cair nos braços uma da outra. Os rostos já próximos um do outro perderam o riso. Ficaram as duas mais sérias, olhavam-se nos olhos com uma cumplicidade desarmante. Lara sentiu-se bem, confiante, segura. Joana fazia-a sentir assim. Joana passou a mão pelo seu cabelo, beijou-lhe a testa, depois a bochecha, depois o nariz. Quando desceu para a boca e Lara sentiu a sua respiração quente, não resistiu, fechou os olhos e deixou que Joana a beijasse. A sensação dos lábios de Joana nos seus foi extraordinária. Nunca tinha sentido nada assim. Nunca tinha beijado uns lábios tão suaves, nem acariciado uma pele tão macia.
Depois dessa noite, seria de esperar que a sua relação com Joana sofresse algumas mudanças. Tal não aconteceu. Continuavam hoje as melhores amigas e o beijo de há dois anos tinha evoluído para algumas noites de prazer que já tinham proporcionado uma à outra. Sentiram o seu primeiro orgasmo juntas. Lara sentia, a cada dia que passava, uma menor necessidade de estar com rapazes. Não lhe agradava a estupidez hormonal dos rapazes, sempre a competirem uns com os outros com apenas um propósito: conquistarem raparigas. Não perdiam uma oportunidade de tentarem qualquer coisa, fosse no cinema, no carro, em casa, na escola, não pensavam noutra coisa. Estava farta deles. O entendimento que tinha com Joana era único, lindo, harmonioso, algo que um rapaz jamais lhe poderia proporcionar.
Contudo, Stanislau era diferente, e agora ia contar-lhe tudo.
- Acerca de mim.
- Sou toda ouvidos.
Lara sentia-se orgulhosa naquele momento. Stanislau estava disposto a contar-lhe tudo. Não conseguia explicar porque se sentia assim perto dele. Sentia-se assustada, mas simultaneamente sentia uma estranha segurança. A sua vida, até agora enfadonha ganhava com aquele rapaz uma cor, uma magia, que julgava ser impossível encontrar em algum rapaz.
Lara havia conhecido Stanislau na fase mais confusa da sua vida. Os seus pais não sabiam mas ela travava diariamente uma luta interior consigo própria. Lara tentava perceber, aos 20 anos, se gostava de rapazes, ou se, como se vinha a aperceber nos últimos 2 anos, preferia raparigas. Todas as suas dúvidas começaram quando, numa noite em que tinha ficado a dormir em casa da sua melhor amiga, Joana a beijou. Estavam deitadas na cama de Joana a ver uma comédia hilariante. Lara ria-se e contorcia-se na cama e Joana começou a fazer-lhe cócegas. Uma coisa levou à outra e começou a luta de almofadas. Já cansadas, deixaram-se cair nos braços uma da outra. Os rostos já próximos um do outro perderam o riso. Ficaram as duas mais sérias, olhavam-se nos olhos com uma cumplicidade desarmante. Lara sentiu-se bem, confiante, segura. Joana fazia-a sentir assim. Joana passou a mão pelo seu cabelo, beijou-lhe a testa, depois a bochecha, depois o nariz. Quando desceu para a boca e Lara sentiu a sua respiração quente, não resistiu, fechou os olhos e deixou que Joana a beijasse. A sensação dos lábios de Joana nos seus foi extraordinária. Nunca tinha sentido nada assim. Nunca tinha beijado uns lábios tão suaves, nem acariciado uma pele tão macia.
Depois dessa noite, seria de esperar que a sua relação com Joana sofresse algumas mudanças. Tal não aconteceu. Continuavam hoje as melhores amigas e o beijo de há dois anos tinha evoluído para algumas noites de prazer que já tinham proporcionado uma à outra. Sentiram o seu primeiro orgasmo juntas. Lara sentia, a cada dia que passava, uma menor necessidade de estar com rapazes. Não lhe agradava a estupidez hormonal dos rapazes, sempre a competirem uns com os outros com apenas um propósito: conquistarem raparigas. Não perdiam uma oportunidade de tentarem qualquer coisa, fosse no cinema, no carro, em casa, na escola, não pensavam noutra coisa. Estava farta deles. O entendimento que tinha com Joana era único, lindo, harmonioso, algo que um rapaz jamais lhe poderia proporcionar.
Contudo, Stanislau era diferente, e agora ia contar-lhe tudo.