A evolução de Stanislau era, a todos os níveis, notável. No entanto, nas várias reuniões para as quais os seus pais eram chamados, o discurso dos professores era muito semelhante: assimilava informação como ninguém, dispunha a informação, nos testes, de forma perfeita. Mas não comunicava, nem tão pouco esboçava qualquer tipo de criatividade. Tudo o que exigisse uma iniciativa da sua parte era imediatamente dispensado. Simplesmente não o fazia.
A preocupação dos seus pais aumentava a cada ano que passava. Nenhum médico explicava o seu comportamento. Tentaram tudo, medicinas alternativas e tradicionais. O pobre Stanislau nem a uma “ida à bruxa” escapou. Nada.
Conseguia assistir a um espectáculo de circo inteiro sem esboçar um sorriso. Mantinha apenas os seus olhitos brilhantes apontados, como faróis, para o núcleo dos acontecimentos, mantinha os ouvidos em alerta, não se distraía com nada. Ao contrário do que seria de esperar, Stanislau via pouca televisão, facto que ainda trouxe mais confusão a todos quantos tentaram perceber o que se passava na mente do pequeno. Antes preferia ficar horas a fio a observar as pessoas, a ouvi-las, quieto.
Fisicamente, estava a transformar-se num belo rapaz. O seu cabelo muito escuro, ondulado, constituía uma moldura sombria e romântica do seu rosto pálido, mas perfeito. Os seus olhos pareciam dois berlindes, negros, com um brilho muito intenso. Estava a ficar alto, estranhamente alto, tendo em conta a altura dos pais. Não fosse o seu comportamento estranho e teria sido um sucesso entre as suas colegas de escola. Mas o seu ar taciturno e a total ausência de comunicação faziam com que fosse, de certa forma, inatingível.
Em casa, já prevalecia uma certa habituação ao seu comportamento. Era normal ver os pais sentados no sofá, assistindo a um qualquer programa na televisão, enquanto Stanislau, sentado num cadeirão, virado para eles, os observava atentamente.
Várias vezes, em festas ou reuniões familiares, tudo acontecia com Stanislau esquecido, num canto da sala, enquanto todos continuavam com as suas vidas, como se ele simplesmente não existisse. Incialmente, os pais, talvez por vergonha ou embaraço, tentavam evitar a ida de estranhos a casa, com receio da reacção das pessoas à diferença do seu filho. No entanto, agora, aos 16 anos, Stanislau via muitas vezes estranhos lá em casa, o que significava que os seus pais já se haviam habituado à ideia e já respondiam com naturalidade às perguntas incómodas dos amigos e conhecidos.
Um dia, os pais deram um jantar lá em casa, para receberem um casal amigo e a sua filha. O Dr. Mendes era médico de clínica geral e foi com alguma curiosidade que ouviu os pais contarem todo o percurso silencioso de Stanislau até aquele dia. Stanislau observava toda a cena olhando, ora para os convidados, ora para os pais, em profundo silêncio, enquanto jantava, com a mesma calma do costume. O Dr. Mendes dizia que era fascinante o caso de Stanislau, porque, na sua opinião, prendia-se apenas com uma decisão tomada pelo próprio desde muito cedo: a de não comunicar. Os pais contrapunham que não era possível, que tinha que ser um problema neurológico, porque um bebé com dias de vida não conseguia tomar a decisão de não chorar, de não se expressar de forma alguma. O Dr. Mendes concordava que era difícil mas que não podiam excluir essa hipótese, tendo em conta a forma prematura com que Stanislau se tinha notabilizado em algumas matérias na escola. Predispunha-se a levar Stanislau a um especialista seu amigo, um psicólogo. Achava que o que o garoto precisava era de um estímulo. Devia ser estimulado na altura certa e nos pontos de interesse certos.
A discussão foi interrompida por Lara. A filha do Dr. Mendes resmungou: “Eu cá acho que não devíamos estar a falar do Stanislau como se não estivesse connosco à mesa! Acho errado!”
Lara tinha 20 anos, era uma rapariga lindíssima. Tinha o cabelo curto, um corte quase masculino. Tinha uns olhos verdes, de um verde azeitona, que pareciam naturalmente maquilhados, ainda que ela não o fizesse. Era esguia, de uma elegância extraordinária, quase faraónica. Andava como se os seus pés não tocassem o chão. Naquele momento soltou aquela afirmação porque se cansou da conversa. O rapaz estava ali sentado com eles e era como se ninguém quisesse saber. Para além disso, achou Stanislau adorável.
No momento em que disse aquilo olhou Stanislau e estremeceu quando percebeu que ela a olhava fixamente, imperturbável.
Ela ganhou coragem e continuou: “Não percebo porquê tanta preocupação com o facto de ele não falar! Talvez esteja a aguardar um dia em que se sinta à vontade para o fazer!” e não parava, talvez saturada de tudo que esteve a ouvir até aquele momento: “ O que achas Stanislau? Quando é que vais finalmente falar? Já sabes?”
O Dr. Mendes exaltou-se:”Lara, estás a ser inconveniente! O que te deu?”
Então, aconteceu algo de profundamente extraordinário.
A preocupação dos seus pais aumentava a cada ano que passava. Nenhum médico explicava o seu comportamento. Tentaram tudo, medicinas alternativas e tradicionais. O pobre Stanislau nem a uma “ida à bruxa” escapou. Nada.
Conseguia assistir a um espectáculo de circo inteiro sem esboçar um sorriso. Mantinha apenas os seus olhitos brilhantes apontados, como faróis, para o núcleo dos acontecimentos, mantinha os ouvidos em alerta, não se distraía com nada. Ao contrário do que seria de esperar, Stanislau via pouca televisão, facto que ainda trouxe mais confusão a todos quantos tentaram perceber o que se passava na mente do pequeno. Antes preferia ficar horas a fio a observar as pessoas, a ouvi-las, quieto.
Fisicamente, estava a transformar-se num belo rapaz. O seu cabelo muito escuro, ondulado, constituía uma moldura sombria e romântica do seu rosto pálido, mas perfeito. Os seus olhos pareciam dois berlindes, negros, com um brilho muito intenso. Estava a ficar alto, estranhamente alto, tendo em conta a altura dos pais. Não fosse o seu comportamento estranho e teria sido um sucesso entre as suas colegas de escola. Mas o seu ar taciturno e a total ausência de comunicação faziam com que fosse, de certa forma, inatingível.
Em casa, já prevalecia uma certa habituação ao seu comportamento. Era normal ver os pais sentados no sofá, assistindo a um qualquer programa na televisão, enquanto Stanislau, sentado num cadeirão, virado para eles, os observava atentamente.
Várias vezes, em festas ou reuniões familiares, tudo acontecia com Stanislau esquecido, num canto da sala, enquanto todos continuavam com as suas vidas, como se ele simplesmente não existisse. Incialmente, os pais, talvez por vergonha ou embaraço, tentavam evitar a ida de estranhos a casa, com receio da reacção das pessoas à diferença do seu filho. No entanto, agora, aos 16 anos, Stanislau via muitas vezes estranhos lá em casa, o que significava que os seus pais já se haviam habituado à ideia e já respondiam com naturalidade às perguntas incómodas dos amigos e conhecidos.
Um dia, os pais deram um jantar lá em casa, para receberem um casal amigo e a sua filha. O Dr. Mendes era médico de clínica geral e foi com alguma curiosidade que ouviu os pais contarem todo o percurso silencioso de Stanislau até aquele dia. Stanislau observava toda a cena olhando, ora para os convidados, ora para os pais, em profundo silêncio, enquanto jantava, com a mesma calma do costume. O Dr. Mendes dizia que era fascinante o caso de Stanislau, porque, na sua opinião, prendia-se apenas com uma decisão tomada pelo próprio desde muito cedo: a de não comunicar. Os pais contrapunham que não era possível, que tinha que ser um problema neurológico, porque um bebé com dias de vida não conseguia tomar a decisão de não chorar, de não se expressar de forma alguma. O Dr. Mendes concordava que era difícil mas que não podiam excluir essa hipótese, tendo em conta a forma prematura com que Stanislau se tinha notabilizado em algumas matérias na escola. Predispunha-se a levar Stanislau a um especialista seu amigo, um psicólogo. Achava que o que o garoto precisava era de um estímulo. Devia ser estimulado na altura certa e nos pontos de interesse certos.
A discussão foi interrompida por Lara. A filha do Dr. Mendes resmungou: “Eu cá acho que não devíamos estar a falar do Stanislau como se não estivesse connosco à mesa! Acho errado!”
Lara tinha 20 anos, era uma rapariga lindíssima. Tinha o cabelo curto, um corte quase masculino. Tinha uns olhos verdes, de um verde azeitona, que pareciam naturalmente maquilhados, ainda que ela não o fizesse. Era esguia, de uma elegância extraordinária, quase faraónica. Andava como se os seus pés não tocassem o chão. Naquele momento soltou aquela afirmação porque se cansou da conversa. O rapaz estava ali sentado com eles e era como se ninguém quisesse saber. Para além disso, achou Stanislau adorável.
No momento em que disse aquilo olhou Stanislau e estremeceu quando percebeu que ela a olhava fixamente, imperturbável.
Ela ganhou coragem e continuou: “Não percebo porquê tanta preocupação com o facto de ele não falar! Talvez esteja a aguardar um dia em que se sinta à vontade para o fazer!” e não parava, talvez saturada de tudo que esteve a ouvir até aquele momento: “ O que achas Stanislau? Quando é que vais finalmente falar? Já sabes?”
O Dr. Mendes exaltou-se:”Lara, estás a ser inconveniente! O que te deu?”
Então, aconteceu algo de profundamente extraordinário.
Ha! Não resisto a partilhar que também sou inconveniente e que o meu pai queria chamar-me Lara! lol Mas estou contente por ele: arranjou um par à altura. Por agora ;)